terça-feira, 8 de janeiro de 2008

PAULO STOCKER


Para começarmos o ano com o pé direito trago este mês uma conversa com Paulo Stocker. O batepapo rolou no final do ano passado, Stocker muito descontraído e super gente boa falou sobre seus trabalhos, planos e projetos.

Eu lhes apresento...

Paulo Stocker
É Cartunista, nasceu em Brusque, santa catarina e mora há treze anos em São Paulo, autor do livro Stockadas publicado pela Via Lettera com oitenta páginas de cartuns eróticos e sem nenhum preconceito. Também é criador do personagem infantil Gico e do inebriante Tulípio em parceria com Eduardo Rodrigues.

Colaborou com as publicações Pasquim 21, Sem Terra, Consumidor S/A, Up Date, Caros Amigos, Carícia e Show Bizz. Também esteve na coletânea Central de Tiras.

As vezes é preciso falar, falar, pra ver se a dor vai embora com as palavras”.

-Paulo Stocker -


Gruft: Iniciando o nosso Gruft Entrevista do mês de Dezembro tenho ao meu lado o fabuloso, o doidivanas, o pervertidamente fantástico, Paulo Stocker.

Paulo Stocker: Muito prazer, Gruft.

Gruft: O prazer é nosso! Então Paulo me fale um pouco sobre como é esta vida de Cartunista e Quadrinhista no Brasil?

Paulo Stocker: Basicamente o mercado brasileiro vive de fotos, fatos e ilustrações, o Cartunista edita seus livros e revistas. Eu trabalho como ilustrador, faço caricaturas em eventos, editei meu livro que foi indicado para o Hq Mix 2007. Faço o Tulípio em parceria com o Edu Rodrigues. O negócio é ralar. Ainda tem as animações que faço pro UOL e pro Cineboteco. Trabalho há quatro anos com a revista do Consumidor. Editada pelo IDEC.(Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor)

Gruft: O que acaba ocorrendo é que os quadrinistas brasileiros tem que se tornar polivalentes, seria esta multifuncionalidade uma tendência natural dos artistas brazucas?

Paulo Stocker: Mais do que tendência é o fato de isso ser a maneira que o artista encontra para sobreviver. E temos resultados maravilhosos nesse sentido. O Ziraldo é a tradução desse tipo de artista.

Gruft: Já que você falou, conte-nos: HQ Mix 2007, como é ser indicado ao maior prêmio de Quadrinhos do Brasil?

Paulo Stocker: O fato de ser indicado com a Turma do Pasquim, Ivan Lessa e seu Gip-gip e Maitena, ao menos pra mim foi recompensador. e perder pra turma inteira do Pasquim, editado pelo Jaguar aumenta minha honra.

Gruft: Podemos dizer que não chegou a ser uma derrota.

Paulo Stocker: E ainda por cima na categoria "cartum" que o Jaguar alertou estar morrendo na mídia, hoje se tem ilustração e foto. O cartum enquanto linguagem não é percebido, resultado dos tempos de repressão, valorizamos a charge. É difícil se libertar do passado.

É fácil fazer charge: o tema vem pronto. O cartum é algo que está mais pras artes, algo mais “pensamental”.

E o STOCKADAS, esse livro, são 70 cartuns sem texto. Humor erótico, surrealista. Pantomímico

Gruft: Falando nisso, sobre Stockadas, gostaria que você explicasse um pouco em relação a esta visão de mundo sem preconceitos, essa coisa de mulher com mulher, bicho com homem, será que cabe um alienígena nesta história também?

Paulo Stocker: Claro (risos). Essa ausência de preconceito vem do fato de como eu vejo o sexo. Sexo pra mim, é sexo. Sem rótulos, sem bandeiras.

Gruft: Você comentou uma coisa que achei muito curiosa em relação as charges e cartuns. Poderia explicar melhor aos nossos visitantes o que é e em que consiste fazer um cartum?

Paulo Stocker: O Cartum, difícil falar sobre isso.

É resultado de muita pesquisa. Fiz aulas de clow, estudo desenho fazem 20 e poucos anos. Sempre quis desenhar como os grandes mestres. Um dia chego lá.

Gruft: O Scott Mc Loud, no livro "Desvendando os Quadrinhos" define o cartum como um estilo onde a simplicidade do traço é predominante e devido a isso as pessoas se identificam com a obra, por de certo modo, verem-se nela. Seria como um espelho, você concorda com isso?

Paulo Stocker: O fato do cartum ser, em muitos casos, com personagens anônimos, coloca o leitor em diálogo com o desenho. A comunicação é imediata, eu acho maravilhoso cartuns de página inteira. Além do leitor se divertir com a idéia, ele pode apreciar a plasticidade do trabalho.

Gruft: Aproveitando o gancho em relação a trabalho, fale um pouco sobre como é a sua parceria com o Eduardo Rodrigues no Tulípio.

Paulo Stocker: Bem. Isso daria uma outra entrevista.

Gruft: Concordo que este assunto vai dar pano para manga (risos)

Paulo Stocker: Tudo começa com o Edu se separando do terceiro ou quarto casamento, ele não lembra. O sujeito sem lar almoçava e jantava em bares, isso durante uns dois anos. Sem lar, não, sem mulher que é quase a mesma coisa. Ele ia para os bares e ficava escrevendo frases em guardanapos, ao chegar em casa ia jogando na mesa da quitinete.

Depois de semanas foi ver e tinham mais de seiscentas frases.Os amigos ficavam dizendo que ele tinha que fazer alguma coisa com aquilo, ele ficou procurando parcerias até que alguém falou que aquilo podia virar cartuns. Criou um nome para o personagem, Tulípio.

Só faltava quem desse vida ao figura. Eu tinha em casa uns esboços, costumava desenhar uns personagens narigudos, compridos, que quase virou um ogro de uma das historinhas do Gico, meu personagem infantil. Foi só tirar um pouco do cabelo fazer uma lipo na barriga sedentária e estava ali o Tulípio.

Hoje o personagem está tão presente que não posso mais desenhar nenhum outro nesse formato. Virou um logo e isso tem sido uma característica dos personagens que crio. O Gico que é um duende se parece com um cogumelo, o Tulípio tem o formato de uma garrafa de cerveja e por ai vai, ou vou...

Gruft: Você também participa da elaboração das histórias com os textos?

Paulo Stocker: As vezes eu faço um desenho e o Edu põe um texto em cima, mas o texto é basicamente da cabeça do Edu. Afinal, as frases ele escrevbeu primeiro em guardanapos e hoje são quase duas mil. Estamos trabalhando no Tulípio já fazem dois anos. Ele está nisso fazem cinco, editamos uma revista de boteco, em formato de bolso que está no sexto número. distribuímos gratuitamente 15.000 exemplares nos botecos de são paulo, rio e belém do pará. Estamos negociando com outras praças, fizemos as animações pro Cine Boteco. Temos o portal no UOL. www.tulipio.com.br e contamos com a colaboração de vários nomes que admiramos ao longo da vida. Aldir Blanc e Jaguar, Paulo Caruso, Ignácio de Loyola Brandão, os amigos Gepp e Maia e Xico Sá. Além de Glauco, Fausto Wolff, Mário Prata, Fernando Gonsales.

Gruft: Mas e o Edu? Ele continua comendo em botecos ou já se arranjou (risos)?

Paulo Stocker: Ele sempre se arranja e continua comendo em botecos.

o Edu é um figura, um grande escritor. Ele tem um livro pra crianças ilustrado pelo Diogo Pace – “30 poemas para ler e 20 para escrever” - O cara conhece quase todos os botecos que nunca ouvi falar e tem um olho automático para achar bar em tudo quanto é canto. Acho que ele deveria ser consultor de alguma cervejaria, fora que ele conhece bem a gastronomia de buteco, fomos em vários bares no rio. Achamos pratos maravilhosos. Recentemente ele foi convidado pra ser jurado em dois festivais de comida de boteco.

Gruft: Mas o brasileiro ele tem uma coisa com boteco realmente. Os gregos diziam que a filosofia estava nas praças, mas aqui acho que esta nos botecos.

Paulo Stocker: Sim. Mas os sábios sentiram falta do vinho, assim fizeram os templos. O bar é um templo e o Tulípio seu filósofo. tem isso no texto, ele também faz bar-kais ( Nome gentilmente cedido pelo Mário Bortolotto) e o hai-kai é uma maneira de pensar a vida. O que eu gosto no Tulípio é que o personagem já veio com o texto e o modelo. O Tulípio é o Edu interpretado por mim.

Gruft: Por falar em filosofia: Esse planeta tem solução?

Paulo Stocker: Na minha maneira de ver, não. Os temas são rasos, a humanidade tomou um caminho sem volta, a radicalização do padrão de consumo esta estabelecida. E isso deveria ser a primeira coisa a ser mudada. Consumimos demais, exploramos demais os recursos, a política ainda não saiu da década passada. Quando o olhar deveria ser para o desconhecido, para o que virá com atitude no presente. A questão é mais do que cultural. é de sobrevivência da raça humana, essa deveria ser a nova política, mas os homens que comandam o planeta são rasos, sem estirpe, raros são os estadistas. Todos venderam seus sonhos ao dono do supermercado, "todos venderam seus sonhos ao dono do supermercado", essa frase é de um poema que quadrinizei. É do poeta Douglas Zuninno, a HQ acabou sendo publicada em uma revista de Portugal.

O Douglas também criou o nome STOCKADAS é um poema que homenageou seus amigos. No poema, Douglas me citava indiretamente: "O cartunista e suas suaves estocadas". Daí virou Stockadas e o nome do livro que editei pela Via lettera.

Gruft: Tem algum recado que você gostaria de deixar aos nossos visitantes? O espaço é todo seu.

Paulo Stocker: Reciclem, as idéias e os restos.

Meu próximo livro da série STOCKADAS vai tratar sobre o tema. Ecologia.

Eu sei que não vou salvar o mundo, mas não custa fazer alguma coisa enquanto estou vivo e usando os recursos que o planeta dispõe.

Gruft: E quando veremos o próximo Stockadas?

Gruft: O próximo Stockadas só daqui a um ano. Ainda estou na fase dos rascunhos, isso levam meses. Comecei a fazer uma série de contos ilustrados com minha mulher, Gabriela Kimura, que mesmo tendo um metro e sessenta, escreve como gente grande. http://oplayground.zip.net/

Gruft: Paulo, quero te agradecer pelo carinho, pela paciência e lhe dar parabéns por todo este trabalho maravilhoso que você vem fazendo. Senhoras e senhores este é Paulo Stocker!

Vocês podem conferir mais trabalhos do Paulo nos links: http://tulipio.nafoto.net/ http://tulipio.nafoto.net/ http://stockadas.zip.net/ http://oplayground.zip.net/

Paulo Stocker: Obrigado pela oportunidade de falar sobre o meu trabalho, Gruft.

*Entrevista concedida a J.P. Rodrigues através de software de batepapo online.

Um comentário:

Alex Genaro disse...

Muito boa a entrevista, parabéns a todos.