terça-feira, 11 de dezembro de 2007

LAERTE

Em primeiro lugar, quero mais uma vez pedir desculpas a todos pelo atraso, esta entrevista deveria ter entrado no ar no mês de novembro, mas tivemos alguns acertos quanto aos rumos do Universo Germinante e a interação entre nossos visitantes e a equipe. Resolvemos viabilizar o site todo em formato de blogs e todos os conteúdos se encontram disponíveis para download, basta clicar nos respectivos links na lateral da página. Mas vamos ao que interessa... Este mês conforme prometi, trouxe até vocês um bate papo exclusivo por e-mail realizado com um dos maiores nomes do quadrinho nacional, o assessino de miguelitos e multifuncional Laerte Coutinho.

Gostaria de aproveitar e registrar os agradecimentos de toda equipe do Universo Germinante ao Laerte que perdeu...ops! Eu quis dizer, cedeu seu tempo nesta entrevista ultrabacanuda.

Gruft: Do traço dos Cartuns, passando pela TV, Teatro e Cinema. Sem dúvidas, você é um dos quadrinístas mais polivalentes do Brasil. Como você definiria sua jornada da década de 70 até os dias de hoje e qual a sua concepção em relação ao legado cultural que você vem semeando?

Laerte: Polivalente. Nossa, essa é do tempo do Claudio Coutinho - não era meu parente. Legado cultural remete ao Machado de Assis. Gruft, você precisa dar uma reciclada! (risos)

Gruft: Realmente, muito erudito, vamos pular pra outra... (risos). Na sua última entrevista concedida a Marco Aurélio Canônico da Folha Folha de São Paulo (link para a entrevista: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u323683.shtml), pude sentir um certo desabafo em suas palavras. Gostaria que você comentasse um pouco mais sobre esta sua fase atual. Poderia nos explicar um pouco mais sobre "Laerte em crise"?

Laerte: Não tenho muito mais o que explicar. Acho que só descobri que, se existe um estado de ausência de crise, eu não estou nele.

Gruft: Sobre seus lançamentos recentes "Laertevisão" e "Piratas do Tietê - A Saga Completa", o primeiro baseado em memórias de infância e o segundo uma reedição, trata-se de uma viagem no tempo para trazer ao presente algo que ficou no passado?

Laerte: Essa foi justamente uma das questões do Marco Aurélio (repórter da Folha). É um aspecto, sim. Quanto mais passado à gente tem, mais interessante ele vai se tornando como tema potencial. Por outro lado, todos os meus livros são coletâneas; essa é uma das naturezas do trabalho com quadrinhos.

Gruft: Como foi a experiência de escrever para os programas de televisão TV Pirata, Sai de Baixo e TV Colosso? Há algum segredo para conseguir escrever para estes três tipos de público distintos?

Laerte: Foi muito importante. Aprendi muito com o Cláudio Paiva, com o Ferré. É muito diferente do quadrinho, não só pelo tipo de linguagem que se usa, mas também pelo fato de ser um trabalho coletivo.

Gruft: Soubemos do projeto de uma animação dos Piratas e queremos saber tudo que for possível. Se quiser falar sobre o impossível, também vamos adorar (risos)... Como esta à produção? Mais algum personagem além dos Piratas deve dar as caras? Pode nos falar um pouco sobre o roteiro?

Laerte: O filme está sendo feito pelo Otto Guerra e está em fase de construção de roteiro, onde eu estou colaborando com o trabalho do Tomas Creus e do Gilmar Rodrigues. A história envolve, além dos Piratas, Silver Joe, os Bandeirantes, e vários outros especialmente inventados, por mim ou pelos roteiristas. Trata da ocasião em que a cidade esteve, por força de artifícios legais, sob a gestão dos Piratas. Mais não posso dizer.

Gruft: Você já teve a experiência de animação com o Overman para o Cartoon Network, isso influência ou ajuda em relação à produção de Piratas?

Laerte: O que ajuda mesmo é a experiência que o próprio Otto criou ao fazer “Wood & Stock”, personagens do Angeli.

Gruft: Falando em Overman, em seu site você o define: "não um simples herói, um super herói". Aproveitando este gancho gostaríamos que você falasse um pouco sobre heróis. Este conceito que sempre esteve em alta no meio dos quadrinhos também vem ganhando força no cinema com as adaptações das HQs, em seriados de TV e outras mídias. Como você definiria esta fascinação das pessoas pelos super-heróis? Também gostaríamos de saber se você tem um grande herói como inspiração, esta vale em qualquer âmbito.

Laerte: Super-heróis me parecem um lance mais dos americanos, com exemplos parecidos no Japão. Não vejo similares na Europa ou na América. Nos anos 50 e 60 apareceram algumas tentativas de desenvolvimento desse gênero no Brasil, sem grande impacto. Acho que curtimos o que nos mandam pronto, por puro espírito de entretenimento. Por isso, o modo como nós, brasileiros, nos divertimos com eles é diferente do modo como os americanos o fazem hoje, que é também diferente do com que eles o faziam nos anos 40 e 50, quando nasceram os personagens na imprensa.

Não sei se esse gênero vem ganhando força no cinema. Penso que é a técnica de confecção de filmes que está empolgando o público, não tanto a natureza heróica dos protagonistas das histórias.

Gruft: Como criador de diversos personagens consagrados, poderia comentar sobre como se deu o processo de criação deles? O que você acha que os fez ficarem tão conhecidos e fazer tanto sucesso?

Laerte: Meus personagens nascem no processo de criar as histórias. Às vezes gostaria que eles não tivessem vida seriada, mas apenas na história geradora. O caso dos Palhaços Mudos é exemplar: gosto muito da primeira história e detesto a segunda. Depois reutilizei dois dos palhaços como coadjuvantes da Suriá, na Folhinha. Não lido com eles com muita ortodoxia…Também tenho dúvidas em relação a tal êxito e difusão.

Gruft: Em relação aos quadrinhos no Brasil, qual a sua opinião em relação ao mercado?

Laerte: É um mercado pequeno; modesto em relação a outros, como música popular ou televisão. Acho que isso não vai mudar. O que pode mudar é a fase de desorganização e de exploração insuficiente.

Gruft: Poderia nos falar um pouco sobre a sua visão em relação à profissão de cartunista no Brasil? Algum conselho para quem esta começando e deseja se profissionalizar?

Laerte: Tenho dado - e ouvido - conselhos em contatos pessoais, vendo ou mostrando trabalhos. Assim no geral só posso dizer generalidades, como: “mostre o que faz, faça fanzines, associe-se a outros, veja mais, leia mais, escute mais” etc.

Gruft: Agora vamos a pergunta mais conhecida por nossos visitantes: Laerte, este planeta tem solução?

Laerte: Não sei.

Gruft: Bem, pelo menos alguém neste planeta é sincero. Será uma chama de esperança para a humanidade? (risos) Vamos ficando por aqui com o Gruft Entrevista, agradeço mais uma vez ao Laerte pelo ótimo bate-papo. Aproveite e visite o site do Laerte, basta clicar aqui.

Por hora é só!

Gruftlândia Triunfa!!!

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