Entrevista concedida por e-mail e foi ao ar no dia 23/07/2007
Nascido no Rio de Janeiro, Jorge Ventura é poeta, ator, jornalista e publicitário. Um dos Diretores de Comunicação Social do SEERJ (Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro), já publicou em poesia e prosa, Turbilhão de Símbolos (2000) e Surreal Semelhante (2003), pela Imprimatur – Rio de Janeiro, tendo conquistado importantes prêmios literários e de interpretação. Lançou em 2006, seu primeiro ensaio jornalístico, Sock! Pow! Crash! – 40 anos da série Batman da TV, pela Opera Graphica Editora – São Paulo.
Sua poesia está presente também em dezenas de antologias cariocas. Trabalhou em jornais e revistas, assinando artigos e colunas. Dublou novelas e atuou em peças teatrais, além de encenações poéticas e curtas-metragens. Diretor de Criação e redator publicitário, hoje é professor de Comunicação e consultor de marketing de diversas empresas.
Fonte: Alma de Poeta
GRUFT: Desta vez o Gruft Entrevista trás para vocês o autor do livro de pesquisa mais completo sobre o homem-morcego e o menino prodígio da série Batman com Adam West e Burt Ward. É com grande honra que trazemos até vocês Jorge Ventura!
Jorge Ventura : Nelson Rodrigues, se estivesse vivo, certamente responderia por mim: “Este livro estava escrito há dez mil anos”. Eu considero este um dos projetos mais importantes da minha vida. Tinha 11 anos quando, sem a menor noção, comecei a anotar os nomes de todos os atores participantes da série, as falas dos personagens e as cenas mais marcantes. Inconscientemente, montei o meu primeiro bat-arquivo, apesar dos garranchos da idade e dos erros de inglês. Fui crescendo e colecionando as HQs, assistindo aos desenhos animados pela TV. Aí surgiu o VHS. Passei, então, a gravar tudo relacionado a Batman, de documentários a programas, além de sátiras com referências ao Homem-Morcego.
Em 1996, já presidia a OFHM (Ordem Filosófica do Homem-Morcego) e escrevia o fanzine Tribuna do Morcego com Márcio Escoteiro. Havia publicado, na edição número 4, uma resenha especial em homenagem aos 30 anos da série. E cheguei a comentar em diversas revistas especializadas e, mais tarde, em sites de fã-clubes. Em 2005, defendi uma tese acadêmica sobre A força da marca Batman e sua poderosa bat-franquia. Registrei em pesquisa o que foi o fenômeno da “batmania”, deflagrada pela série televisiva. Isto coincidiu com o interesse da Opera Graphica em lançar um livro sobre os 40 anos de Batman da TV. Fui indicado, então, pelo amigo Silvio Ribas (outro grande estudioso no assunto e autor do Dicionário do Morcego), que muito me incentivou a aceitar o desafio de, em apenas três meses, organizar o livro.
Sock!! Pow!! Crash! é, na verdade, um grande compêndio, uma releitura de tudo o que foi escrito por mim e por diversos pesquisadores, batmaníacos ou não. Mas com um diferencial: o livro foca a estréia de Batman na TV brasileira e os acontecimentos importantes da época, indo da ciência às artes e costumes, da pop art à psicodelia dos sixties e à contracultura no Brasil.
GRUFT: Durante o andamento do livro houve alguma surpresa, houve algum dado ou informação que lhe deixasse com aquela cara de "esta eu não sabia"?
Jorge Ventura : Faz parte do maravilhoso mundo da pesquisa. Quando você acha que já conhece bastante um determinado assunto, aí é que você se surpreende. Você acaba descobrindo coisas novas: fontes inéditas, relatos nunca antes revelados, um artigo recém-publicado de um especialista etc. Trata-se, portanto, de um incessante aprendizado. Mas isto é fascinante para mim. É claro que, hoje, tudo ficou mais fácil com a Internet. Em Sock!! Pow!! Crash! não foi diferente.
Ao longo da minha organização, tive de atualizar vários apontamentos, cruzar todas as informações e, em alguns casos, tirar as minhas próprias conclusões. Um exemplo disso foi a ausência de Julie Newmar (Mulher-Gato) no longa-metragem de 66, inspirado na série. Alguns documentários afirmam que a atriz não participou deste filme pelo seu envolvimento com a produção de “O Ouro de Mackenna” (western que só estrearia nos cinemas em1969). Na verdade, Newmar justificou sua ausência por estar comprometida com outros projetos pessoas, inclusive um sério tratamento na coluna. Julie Newmar encerrou sua participação ainda na segunda temporada de Batman.
Durante o terceiro ano da série (1968), começaram as filmagens de “O Ouro de Mackenna”, o que sugere ser a versão mais provável do seu afastamento. A atriz e cantora de jazz, Eartha Kitt, tornou-se a terceira Mulher-Gato, uma vez que, no longa-metragem, Lee Meriwether interpretou a felina vilã.GRUFT: Você tem preferência por alguma das fases do Batman?
Jorge Ventura : Batman é um personagem de diversas fases, adaptações e múltiplas faces; e tudo nele me encanta independente da Era em que vive ou universo onde habita. Mas confesso dar uma atenção especial ao Batman dos anos 60 (refiro-me à Era de Prata) e, principalmente, à série da TV. Afinal, é o Batman da minha infância! Foi a partir deste seriado que passei a acompanhar com afinco as aventuras do herói nas Histórias em Quadrinhos.
Eu tinha 5 anos quando assistia à série e, de lá pra cá, não parei mais. Dedico até hoje uma parte do tempo aos estudos do personagem e sua trajetória. O clima “camp” apenas caricaturou uma época marcada pela psicodelia e pelas grandes transformações sociais, políticas e artísticas. A década mais revolucionária do século XX deu abertura para o avanço desenfreado de novos estilos, modas e costumes. E a série da TV, poucos sabem disso, traduziu com fidelidade as aventuras do herói das HQs, dos anos 60. Pena que esta estética – que traduz o exagero, o humor espalhafatoso, foi deturpada por teorias infundadas, como a de Fredric Wertham, que afirmava que as HQS provocavam o desvio de jovens e adolescentes, levando-os à delinqüência e à perversidade sexual.
A mídia aproveitou o gancho para “apimentar” o mal-entendido e vender uma imagem completamente distorcida. É claro que, hoje, o clima “camp” não mais se sustenta, nem tampouco teria cabimento no atual universo do Homem-Morcego. O Batman do século XXI é bastante sério e disposto a enfrentar um mundo cruel e injusto. Mas costumo dizer que, “camp” ou “dark”, Batman é bom de qualquer maneira.
GRUFT : Que outras adaptações das HQs para o cinema você acha interessante?
Jorge Ventura : Das adaptações que ficaram no acervo particular, posso destacar Superman: The Movie (1978), com Christopher Reeve, Marlon Brando e Gene Hackman – filme dirigido por Richard Donner; a saga dos X-MEN (2000/2003/2006) – os dois primeiros filmes dirigidos por Bryan Singer e o último por Brett Ratner; e Spider-Man 1, 2 e 3 (2002/2004/2007), dirigidos por Sam Raimi. Não posso esquecer de mencionar também as versões de Sin City (2005) e 300 de Esparta (2007), obras de Frank Miller, dirigidos respectivamente por Robert Rodriguez e Zack Snyder.
GRUFT : Ainda falando em cinema, o filme "De Volta a Batcaverna" de 2003, traz Adam West e Burt Ward no papel deles mesmos em uma intrépida aventura tentando resolver o misterioso roubo do batmóvel, além disso, traz deliciosas memórias em relação ao seriado e o melhor de tudo é que não teve Joel Schumacher na direção (rs). O que você achou deste filme? Contribuiu em algo para o livro?
Jorge Ventura : Este telefilme, dirigido por Paul A.Kaufman, narrou, basicamente, as memórias dos astros principais (Adam West e Burt Ward) e seus relacionamentos com fãs, além dos bastidores no set de filmagem. Muito do que foi visto, já tinha sido publicado em seus respectivos livros: Back To The Batcave e Boy Wonder: My Life In Tights.
Mas não restam dúvidas quanto ao valor deste grande tributo à série da TV. A estória recria o clima “camp” com direito a muitos improvisos e, claro, o roteiro deste telefilme contribuiu também para a realização do meu livro. Vale a pena aqui registrar as participações de Julie Newmar, Lee Meriwether, Lyle Waggoner (galã da série Mulher Maravilha, dos anos 70, que no final de 1965 havia perdido o papel de Batman, para Adam West) e o inesquecível Frank Gorshin, em sua última atuação na pele de um vilão tão enigmático quanto o Charada.GRUFT: Você tem paixão por mais alguma outra personagem que valesse a pena fazer mais uma obra do gênero de Sock!! Pow!! Crash!? Em outras palavras, quais são os seus próximos projetos? Pode nos adiantar algo?
Jorge Ventura : Eu sou um eterno apaixonado pelos anos 60 e acho que temos uma enorme galeria de ícones, sobretudo desta década tão revolucionária, que mereceriam um estudo especial. Continuo pensando com carinho na possibilidade de escrever sobre outros símbolos da cultura de massa, mas por enquanto nada está formatado.
GRUFT: Sem dúvidas, Batman e todo o seu universo são ícones da cultura mundial, podemos observar estes símbolos aparecendo de diversas formas. No Rio de Janeiro, uma das chamadas "milícias" que vem tomado o controle das favelas e expulsando os narcotraficantes e gerando uma guerra que só espalha o terror, adotou o símbolo do herói. O que você pensa a respeito disso?
Jorge Ventura : Batman mexe com o imaginário de muita gente e isto se explica, uma vez que o herói, feito de carne e osso, está bastante próximo à nossa realidade urbana. Os problemas de violência da fictícia Gotham City são os mesmos do Rio de Janeiro, São Paulo, Nova York ou Hong-Kong.
Gruft: Algum recado que queira deixar para nossos visitantes?
Jorge Ventura : Alô, galera que aprecia HQs, RPGs e cultura pop: vamos continuar prestigiando a equipe do www.universogerminante.net, que está de parabéns pelo belíssimo trabalho!
Gruft: E esse mundo? Tem Solução?
Jorge Ventura : Esse eu não sei, pois acho muito difícil mudar o quadro caótico em que vivemos: desigualdade social cada vez maior, fanatismo infundado, egoísmo, ganância, desrespeito ao semelhante, água em extinção, esvaziamento cultural... Mas acredito que, futuramente, o planeta sofrerá um grande choque e, com isso, levará uma sacudida cósmica, que vai transformar todos os seres, principalmente, os humanos. Quem sobreviver a este choque, poderá talvez construir um mundo melhor e então proclamar a tão sonhada paz na Terra. É isso! Fui!
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