domingo, 2 de dezembro de 2007

Carlos Latuff

Carlos Latuff (Rio de Janeiro, 30 de novembro de 1968) é um cartunista brasileiro.

Apesar de ter iniciado sua carreira como ilustrador numa pequena agência de propaganda no centro do Rio em 1989, tornou-se cartunista publicando sua primeira charge num boletim do sindicato dos estivadores em 1990, e permanece trabalhando para a imprensa sindical até os dias de hoje.

Com o advento da Internet, Latuff deu início ao seu ativismo artístico, produzindo desenhos copyleft para o movimento zapatista. Após uma viagem aos territórios ocupados da Cisjordânia em 1999, torna-se um simpatizante da causa Palestina, destinando boa parte de seu trabalho a esse tema.

Tem trabalhos espalhados por todo o mundo. Um exemplo disso foi o fato de ter sido o primeiro brasileiro a ter um desenho publicado no concurso de charges sobre o Holocausto, promovido pela Casa da Caricatura do Irã, em resposta às caricaturas de Maomé divulgadas na imprensa européia. O desenho retrata um palestino em lágrimas diante do muro erguido por Israel, usando um uniforme de prisioneiros dos campos de concentração nazistas: em vez da Estrela de David no peito, aparece o Crescente Vermelho.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Esta entrevista foi ao ar no mês 9 de 2007 em meio a polêmica em relação ao mascote do Pan.

GRUFT: Baseado na afirmativa de que todo o artista carrega a responsabilidade de levar através de sua arte algum tipo de mensagem, gostaria de abrir esta entrevista com uma
pergunta um tanto que capciosa (principalmente para aqueles que estiveram na II Semana de Quadrinhos da UFRJ). Ativista ou Cartunista? (risos...) Como é ser conhecido como "o traço bomba"?

Carlos Latuff: Conhece o velho ditado "Em terra de cego, quem tem um olho é rei"? Vivemos no reino da mediocridade, da ignorância cultivada cuidadosamente pela mídia, do "pão e circo" sem pão, do individualismo levado as ultimas consequências. Daí, quem resolve se levantar contra isso, acaba sendo visto como revolucionário, radical, "traço-bomba", quando na verdade o combate ao conformismo deveria fazer parte do cotidiano de qualquer um. Mas sabe, gosto disso. Essa "maledicência" me faz bem. Me faz lembrar que de algum modo continuo seguindo no s entido oposto ao do rebanho de cordeirinhos.

GRUFT: Há uma de suas ilustrações para Rogério Skylab, entrevistei ele em uma outra ocasião e perguntei: "Você tem alguma influência literária, cinematográfica ou mesmo das HQs nas suas composições?". Ele respondeu que não simpatizava muito com a palavra "influência", sendo assim, poderia citar algumas de suas referências? Onde busca tanta inspiração?


Carlos Latuff : Eu gosto de ficar fuçando a Internet em busca de referências, antigas e modernas, que vão desde ilustrações da era Vitoriana, charges em preto-e-branco dos anos 10, 20, 30, 40, quadrinhos dos anos 50, 60, 70, 80, passando pelo design, pela pictografia das placas de trânsito, logomarcas, fotografia, vídeo, clips, cinema, vou vendo tudo e ingerindo conceitos como se fossem jujubas. Fico me nutrindo de imagens. Acho que por isso mesmo algumas vezes as idéias vem as minhas mãos parecendo serem psicografadas.

GRUFT : Há muitas ilustrações suas que rodam o mundo, entre as mais conhecidas esta o Che Guevara usando turbante que você permitiu que fosse publicado gratuitamente por uma revista europeia, você também faz muitas imagens "copylefts", todas de cunho contextualizador. Como você definiria a questão ideológica de sua arte e o que diria em relação à publicação de imagens gratuitamente?


Latuff : Meu interesse é que minhas imagens se tornem domínio público, que façam parte do imaginário popular. Para isso facilito ao máximo sua livre distribuição pelo mundo via Internet me utilizando do conceito do "copyleft". Não me interessa, por exemplo, faturar um níquel sequer com as imagens pró-Palestina que produzo. Quero mais é que elas corram o planeta levando uma mensagem positiva sobre um povo tão sofrido e lutador. O mesmo se aplica aos desenhos que faço sobre a guerra do Iraque ou o levante popular em Oaxaca. Temos que parar de pensar que tudo o que se faz deva ter retorno financeiro. Não. Devemos nos lembrar que existe o retorno social, o retorno de alguem que me escreve de Gaza simplesmente pra dizer "obrigado por se lembrar de nós". O nome disso é INTERNACIONALISMO.

GRUFT : Uma das últimas polêmicas que ocorreram em torno do seu nome foi a divulgação do desenho do mascote do Pan segurando uma metralhadora, você chegou a ser intimado pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra Propriedade Imaterial. Em meio a esta questão é interessante ressaltar que outros cartunistas já haviam utilizado o desenho do mascote em charges anteriormente. O que pensa a respeito?

Latuff : O fato de apenas eu ter sido intimado a ir numa delegacia, apesar do Aroeira e o Pânico terem feito sátiras com o mascote do Pan, demonstra bem se tratar de questão política. Na verdade, trata-se de represália do Estado do Rio contra quem reproduziu minha charge, no caso a Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, entidade que vem denunciando a violência policial contra comunidades de favela. Pessoas ligadas a essa organização foram detidas por terem reproduzido o desenho em camisetas. Tivesse essa imagem sido impressa pela mídia corporativa, e não teríamos essa reação. É mais um capítulo da criminalização dos movimentos sociais no Brasil.

GRUFT : Devido as suas críticas há uma certa intenção de inversão de papeis colocando você como um tipo de vilão ou conspirador. Como você definiria o papel da mídia em meio a tudo a isso?

Latuff : E o que esperar da mídia burguesa, filho? Você espera tirar leite de uma cascavel? As emissoras de TV faturaram alto com a cobertura dos jogos, eles lá tavam interessados em protestos contra a manipulação do Pan? Tanto assim que durante os jogos voce não via na televisão ações policiais, tiroteios, assaltos, mortes, nada. A discussão era quem iria passar quem no quadro de medalhas e, claro, o acidente com o avião da TAM, porque esse não dava pra esconder mesmo.

GRUFT: Há uma comunidade no orkut com apenas seis membros, um deles é “você” (risos..), que conta uma história sobre você não gostar de mangás e também lhe acusa de dizer que o gênero é falta de arte. O que é isso? (risos...)

Latuff : É bom dizer que eu não tenho Orkut. Portanto, qualquer um que se apresente por lá como sendo Carlos Latuff é falso. Quanto ao fato de criarem comunidades de "eu odeio isso, eu odeio aquilo", é lugar-comum no Orkut. Até porque o número de pessoas que me detesta é BEM maior do que seis. Tem gente de tudo quanto é país que vai estourar champanhe no dia em que eu bater as botas. São, na maioria, reacionários, conservadores, babacas em geral. Nada de novo. Estranharia se eu tivesse apenas apreciadores de meu trabalho.

GRUFT: Você é amigo de infância do João Simões Lopes Filho, o nosso Begud. Tem alguma historinha escabrosa para nos contar a respeito desta criatura? (risos)

Latuff : Tenho não, aquele rapaz era tímido demais pra protagonizar "historinhas escabrosas". Mais fácil, seria, ele escrever historinhas escabrosas, ainda mais se forem de ficção científica ao estilo de Perry Rhodan que ele tanto gostava de ler. A lembrança que tenho de quando éramos garotos é de um rapaz de brancura comparável a de um lençol recém-saído da loja, de movimentos lentos, sorriso discretíssimo, de uma dicção e inteligência notáveis.


Gruft: Gostaria de deixar algum recado? Fique à vontade o espaço é todo seu...

Latuff : Pau no cú da imprensa burguesa. :)

Gruft: Finalizando com a conhecida "pergunta Gruft", este planeta tem solução?

Latuff : Ah, claro que não. Sendo esse planeta povoado por seres humanos, a possibilidade de solução é quase zero. Ou melhor, quase não, é zero MESMO. :)

Gruft: Caros visitantes, este foi Carlos Latuff! Agradecemos pela entrevista e pela contribuição. Por este mês é só!


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